Maria Borralheira
De Henriqueta Lisboa.
Havia um homem viúvo que tinha uma filha chamada Maria; a menina, quando ia para a escola, passava por uma casa de uma viúva que tinha duas filhas. A viúva costumava sempre chamar a pequena e agradá-la muito. Depois de algum tempo começou lhe dizer que falasse e rogasse a seu pai para casar com ela. A menina pegou e falou ao pai para casar com a viúva, porque “ela era muito boa e agradável”.
O pai respondeu:
-Minha filha ela hoje te dá papinhas de mel; amanha te dará fel.
Mas a menina sempre vinha com os mesmos pedidos, até que o pai contratou o casamento com a viúva. Nos primeiros tempos ela ainda agradava a pequena e, ao depois, começou a maltratá-la.
Tudo o que havia de mais aborrecido e trabalhoso no trato da casa, era a órfã que fazia. Depois de mocinha era ela que ia a fonte buscar água e ao mato buscar lenha; era quem acendia o fogo, vivia muito suja no borralho. Daí lhe veio o nome de Maria Borralheira. Uma vez, para judiá-la a madrasta lhe deu uma tarefa muito grande de algodão para fiar e lhe disse que naquele dia devia ficar pronta. Marinha tinha uma vaquinha, que sua mãe lhe tinha deixado; vendo-se assim tão atarefada, correu e foi ter com a vaquinha e lhe contou, chorando, os seus trabalhos.